quinta-feira, 20 de abril de 2017

Uma Ode de amor à terra que não me viu nascer: Penha Garcia

Pode-se dizer que se é de uma terra sem se ter lá nascido?

Pode.



Apesar de ser alfacinha de gema e de já ter passado a minha vida escolar/laboral em três terras diferentes, tenho muito prazer em dizer que sou da Beira Baixa. No fim de contas, sempre que havia férias/fins-de-semana prolongados era a Penha Garcia que rumávamos.




Desde que me lembro, passamos lá os Verões escaldantes, onde nem às oito da noite se podia sentar numa pedra de quão quente que estava, passando por aquelas semanas onde toda a família se encontrava à mesa e onde ainda se continua o ritual de se reunir os primos todos pela semana das festas de Agosto.

O cheiro a pão quente que inunda as manhãs na aldeia, passando pelos serões à porta de casa...continuando por aquela liberdade para deambular pelas ruas estreitas da aldeia até depois da hora de jantar (liberdade essa que não nos era permitida senão nas férias e ali, em Penha Garcia!) são recordações que ainda estão tão frescas na minha memória que me basta fechar os olhos para as poder experienciar uma vez mais.


Não é uma terra qualquer: não querendo ser facciosa (mas acabando sempre por o ser porque, digamos, é complicado não se ser tendencioso em circunstâncias destas), a minha terra é mesmo bonita: com casinhas a descer a encosta, é classificada como "o Presépio da Beira".


Mas o melhor encontra-se além castelo - do outro lado do monte há uma paisagem a perder de vista, com os moinhos e a piscina natural Pego, onde a água fresca sabe mesmo bem depois de uma caminhada sob o sol abrasador. As rochas, os fósseis, é tudo deslumbrante: há sempre algo a aprender e a ver de novo em cada esquina, em cada subida, em cada descida. Cada pedra aqui tem uma história para contar.

É impossível fazer uma caminhada sem se parar meia dúzia de minutos para trocar conversa com esta e aquela pessoa, sempre disponíveis para partilhar conhecimentos, histórias antigas. As pessoas daqui são o espelho do que costuma dizer dos portugueses: atenciosas, sempre disponíveis para receber bem até quem não conhecem.



Convencidos com a descrição? Eu sempre estive. Aliás, na minha adolescência, o meu sonho de adulta era mesmo ser farmacêutica para poder trabalhar perto da comunidade que sempre tão bem me acolheu. Poder realmente retribuir o bem que me fizeram ao longo do meu crescimento como pessoa.

Infelizmente, ao longo do tempo e da idade percebemos que a visão dos "óculos cor-de-rosa" nem sempre é a possível. No entanto, faço sempre questão de colocar os meus todos os Natais, Verões e Páscoas quando lá regresso.

E de dizer que sou de lá, pois está claro.