terça-feira, 21 de maio de 2013

Ao (des)concerto do mundo

Às vezes há dias em que não apetece falar de maquilhagem.


Sei que a maioria das pessoas apenas conhece o blog como sendo de beleza, mas há dias em que o blog também serve de catarse para certas situações. Creio que, em algum computador, haverá alguém atrás do ecrã a pensar como eu.

Apesar de abominar, mais do que tudo, andar de transportes públicos, admito que estes me fazem conviver com bastantes pessoas, e presenciar situações que se andasse de carro, nunca veria e não me fariam, talvez, ter uma perspectiva sobre certos assuntos, muito mais vincada e informada.

Ainda a semana passada houve um que me incomodou particularmente. No comboio ouvi uma senhora, com ar de bastante orgulho, admitir que tinha ameaçado o professor do filho de pancada porque "só dava más notas ao filho, que, coitado, era inteligente e não merecia a maldade do professor".

Isto, obviamente, é só a ponta do icebergue. Oiço coisas e vejo todos os dias, que só dá vontade de bradar aos céus e pensar a que ponto chegámos. Há quem diga que é culpa da crise. Talvez. Só sei que, em muito pouco tempo, a sociedade portuguesa mudou e drasticamente.

Este assunto dos professores é algo que me toca cá fundo. A minha mãe é professora há décadas e eu, do alto dos meus 23 anos, vi o declínio a que a profissão chegou. As pessoas perderam o respeito pela figura do professor, pela instituição do Ensino e tudo o que ela representa: a Educação.

A criança, se se mostra rebelde e indisciplinada, é rapidamente catalogada como tendo "uma personalidade vincada". O professor deixou de ser uma segunda figura parental e é encarado, não só pelos alunos como também pelos pais como um misto de "inimigo a abater" e "criatura que tem como responsabilidade dar a educação que o aluno não recebe em casa". Os livros, esses, são única e exclusivamente inseridos por "obrigação", quando a criança entra em idade escolar. Ou seja, os livros são apenas um "empecilho" e algo abominado por todos.

Os livros. Neste âmbito, creio que a minha educação correu muito bem. Fui desde pequena, habituada a ter um contacto bastante próximo com os livros. Nas compras semanais, por volta dos 4,5 anos, fui incentivada pela minha mãe a trazer comigo para casa um livro à minhas escolha. Obviamente que, em vez de escolher o livro, punha-me a lê-lo enquanto os meus pais faziam as compras e, quando chegava a altura de me ir embora, já tinha despachado uns 2 ou 3. Obviamente que a minha viagem ao supermercado acabava sempre comigo a escolher um livro à pressa que ainda não tivesse lido.

Acabei por, graças a este pequeno truque parental, interessar-me por livros e por querer saber mais. Será que é isto que está a faltar às gerações mais recentes, um pouco de cultura? Um pouco de fantasia, mistério, realidade, experiência, coragem e emoção?

"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem."-Mário Quintana